Informações Invisíveis: Como Medir o Que Não Se Vê?
Introdução
Grande parte da modelagem econômica tradicional baseia-se na correlação linear para identificar relações entre variáveis. No entanto, mercados financeiros operam de maneira altamente não linear, adaptativa e imprevisível. Isso exige uma métrica capaz de capturar dependências invisíveis à estatística clássica. É nesse contexto que entra a informação mútua.
1. Diferença entre correlação linear e informação mútua
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Correlação linear (ex: Pearson) mede o grau de alinhamento entre duas variáveis com base em uma relação reta (linear). Funciona bem apenas quando as variáveis aumentam ou diminuem juntas de forma constante.
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Informação mútua (MI – mutual information) mede quanto de informação uma variável contém sobre outra, independentemente da forma da relação (linear, não linear, caótica ou condicional).
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Enquanto a correlação assume simetria e gaussianidade, a informação mútua funciona mesmo em estruturas assimetricas, com ruído, saltos ou comportamentos dissimétricos.
Exemplo prático:
Uma variável A pode ter correlação próxima de zero com uma variável B, mas ainda assim ter alta informação mútua se houver uma relação condicional complexa (ex: B se move apenas após A atingir certo patamar crítico).
2. Por que os modelos clássicos falham?
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Modelos lineares, como regressões múltiplas ou séries temporais ARIMA, assumem que os dados têm relações estáveis, proporcionais e reversíveis.
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No mercado, variáveis frequentemente têm relações intermitentes, assimétricas e contextuais. O efeito de uma variável sobre outra pode depender do regime de mercado, de variáveis intermediárias, ou de choques externos.
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Em momentos de estresse (ex: crises, decisões de política monetária), essas relações se reconfiguram rapidamente, e os modelos lineares perdem validade.
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Como consequência, esses modelos ignoram entrelaçamentos não triviais que ocorrem entre variáveis aparentemente desconectadas.
3. Como a métrica informacional revela entrelaçamentos inesperados
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A informação mútua identifica dependências estruturais entre variáveis que não aparecem nos gráficos de dispersão e não seguem um padrão fixo.
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Ao medir o grau de incerteza reduzida de uma variável quando se conhece outra, ela fornece uma visão mais realista da interdependência entre ativos.
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Isso permite construir matrizes de entrelaçamento, clusters informacionais, e identificar variáveis-sentinela (aquelas que antecipam mudanças em outras).
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A aplicação prática inclui:
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Seleção de preditores não lineares para modelos de predição
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Monitoramento de regimes de ruptura de correlação
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Visualização de hubs ocultos de influência no sistema financeiro
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Exemplo prático:
Ao analisar a curva de DI futuro, a volatilidade implícita do dólar pode não mostrar correlação direta, mas revelar alta informação mútua – indicando um entrelaçamento estrutural que precede eventos como choques cambiais ou reprecificação de juros.
Conclusão
A informação mútua amplia a capacidade de análise quantitativa ao incorporar relações ocultas e dinâmicas. Em vez de depender apenas de correlações que desaparecem em momentos críticos, o uso dessa métrica permite detectar conexões reais, ainda que não óbvias, e construir modelos mais robustos, adaptáveis e sensíveis à estrutura viva do mercado. Em um ambiente onde o que mais importa é justamente o que não se vê, a métrica informacional se torna indispensável.
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